segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mundos diferentes


Parque Indígena do Xingu, Aldeia Yawalapiti, 22 de outubro de 2012

Um dia desses, eu tava conversando com meu irmão, trocando mensagens com ele, e disse a seguinte frase: vão desligar o gerador e ainda tenho que atravessar a aldeia, e tomar banho!

No outro dia eu fiquei pensando que meu irmão não deve fazer idéia do que é atravessar aldeia, já que ele não sabe o tamanho, quantas ocas existem (na língua Yawalapiti chamamos de pa - a pronúncia é a mesma da ferramenta), se há algum obstáculo, se há árvores, etc. Enfim, ele num sabe como é o local onde moro.

Essa informação deve ter passado batido por ele, mas fiquei pensando bastante sobre isso. Percebi que, a quase totalidade das pessoas que eu já conhecia antes de vir pro Xingu, não faz idéia do que seja um vida numa aldeia, ou num parque indígena, da mesma forma como eu também não antes de vir pras bandas de cá (tô falando de conhecer de verdade, e não ter conhecer através das informações que nos passam na escola).

Posso citar alguns exemplos de eventos que acontecem aqui, que não constumam acontecer nos demias lugares onde morei, para que demonstrar muito do que tem aqui, não tem lá fora.
Um desses dia começou a chover, e vi 3 velhos indo pra fora de suas casa e começando a rezar. Essa reza serve pra espantar os raios e trovões. Isso é algo onde não se vê facilmente (enquanto crianças, falávamos de fazer a dança da chuva, pois é, da mesma forma aqui tem reza pra chover também, mas nunca vi ninguém usar, mas tem!).

Quando estavam na minha casa, outro dia desses, dois caciques da aldeia, um dos velhos e um outro índio, que estava falando cada um na sua língua (os caciques falando em Yawalapiti, o velho falando em Kamayura, e o outro índio falando em Waura), e todos estavam se entendendo. Ah, a língua Yawalapiti e Waura são do tronco linguístico Aruak, e Kamayura é do tronco Tupi. Mais uma coisa que não se costuma acontecer por ai, ver uma conversa entre pessoas, cada uma falando sua língua, e todas se entendendo (só pra deixar registrado, o cacique aqui da aldeia fala 9 línguas diferentes!

E mais um exemplo pra acabar, pois se eu ficar dando muitos exemplos, isso aqui vai virar um livro. Como estamos no período do plantio das roças, já que as chuvas começaram, estamos fazendo mutirão de roças, onde, todo dia de mutirão, acordamos perto das 05 da manhã e à 06 já estamos preparando a roça de algum dos índios da aldeia - os homens é que fazem as roças, cavando as covas e plantando as ramas de mandioca. Ah, antes de ir pra roça, um dos caciques vai até o centro da aldeia e chama todos pra começar o trabalho. Quando voltamos, um pouco depois da 08, o dono da roça que foi preparada, faz o pagamento do serviço, servido uma refeição.

Estou fazendo pequenos registros daquilo que vejo sempre, e que fazem parte do meu cotidiano, e são essas coisas que vivo aqui, que não são do conhecimento da maioria das pessoas que conheço. Ainda hoje, tem muita coisa que não conheço e vou ver coisas novas, e isso vai durar ainda por muito tempo!!!

E o filho mais velho do cacique me perguntou como que eu tô me sentindo, vivendo essa vida completamente diferente de qualquer coisa que eu já tenha vivido! É mole!?

Saudações Xinguanas

Um comentário:

Luciana Vieira disse...

Que legal Porcao, gostei da história da ro'ca, muito legal fazer o trabalho em grupo e depois todo mundo sai ganhando.
Pra mim também, muitas vezes que falo com meus pais no Brasil sei que eles nao tem nocao da minha realidade na Austria. Meu primo até veio me visitar pra depois contar tudinho tintin por tintin lá, mas mesmo assim, ainda é dificil imaginar o inverno por exemplo.
Fico encantada com as suas experiências aí, muito legal!
Um abra'co da Lu.