sábado, 20 de abril de 2013

Criança, a alma do negócio.


Parque Indígena do Xingu, Aldeia Yawalapiti, 20 de abril de 2013

Não é por qualquer motivo que escolhi este título.
Já tinha percebido o quanto os programas e propagandas da televisão exercem muitos fascínios nos índios. Há muitos comentários sobre o que assistem, como novelas, muitas expressões de desejo pelo que vêem nas propagandas, e a vontade de serem "parecidos" como os "ídolos". Um triste exemplo disso é um grande número de jovens índios que cortam seus cabelos como o Neymar - jogador de futebol (não tenho nada contra o Neymar, tampouco ao corte da cabelo dele, mas o que me deixa triste é a aculturação, cada vez mais intensa, que acontece aqui). Um outro triste exemplo é o fato de alguns jovens índios que moram na cidade quererem se parecer e agir como os jovens da Malhação (uma das novelas da Globo).

Agora, um fato que me deixou surpreso foi, quando estava em uma das casas aqui na aldeia, e vi uma das crianças começar a cantar a música de um comercial da Johnson & Johnson. Imediatamente, todas as crianças da casa o acompanharam cantando a "musiquinha", que até parece ser inofensiva - mas que gruda na cabeça da criançada, e os faz relacionar a música ao produto (mas essa é a função dessas músicas "bonitinhas" das propagandas!). Depois disso, fiquei pensando naquil que tinha visto, e querendo saber se era apenas um evento trivial. Fiquei reparando nos comerciais da televisão, até assistir o referido comercial. No momento que o comercial começa, as crianças fixam os olhares na TV e acompanham a música direitinho!


Ainda não tive oportunidade de ver nenhuma criança aqui da aldeia pedindo pros seus pais para comprarem os produtos da propaganda, até porque não tive a oportunidade de ir para a cidade depois que percebi isso, mas não duvido nada que veja.

Ao presenciar aquilo, lembrei imediatamente do documentário "Criança, a alma do negócio". Por isso mesmo coloquei o nome do documentário como o título do texto. Vendo tudo isso que citei me surgem algumas perguntas:

As pessoas que trabalham com propaganda e com as imagens (como é o caso dos produtores de novelas) sabem que seus trabalhos têm tanto poder de influência, inclusive nas comunidades que entendem pouco da linguagem usada na TV?*
* apesar de alguns índios entenderem pouco das linguagens usadas na TV, o excesso de sensibilização - no caso dos índios que moram na cidade - ajuda nesse resultado.

Essa relação das crianças com a propaganda é uma mera coincidência (como que, mesmo as crianças que não falam Português e quase não têm contato com o mundo não indígena, exceto pela televisão, são tão influenciadas por este tipo de propaganda)?

Esse poder da TV, e o que se vê nelas, é comum aos humanos, independentemente da origem e cultura?

Pois é, preciso estudar um pouco mais, ler Yung, Hume...

Para quem não viu ainda, sugiro ver esse documentário: "Criança, a alma do negócio".
Apesar de ser impressionante, é muito importante assistir. Percebi que aquilo que vejo na TV não são meras propagandas, e que há um poder muito forte, e que não é - nem de longe - invisível.


Saudações Xinguanas