terça-feira, 9 de outubro de 2012

Eleições


Parque Indígena do Xingu, Aldeia Yawalapiti, 09 de outubro de 2012

Fiquei impressionado com o que vi na semana passada, aqui ma aldeia. Por ser a última semana antes da eleição, houve uma "invasão" de candidatos e cabos eleitorais aqui na região. Esse povo que veio fazer campanha, veio utilizando um método bem medonho. A maioria deles foi diretamente na casa do Cacique, pedir seu apoio e sua indicação para que os demais moradores da comunidade votassem neles, ou em seus candidatos. Além de fazer um monte de promessas, promessas que sempre são feitas e quase num são cumpridas - ainda naquele formato de "eu vou fazer, eu vou construir, etc (como se a pessoa que falou isso, fosse realmente pegar na colher de pedreiro e levantar parede... mas é assim que as coisas são ainda hoje - e o "povo" acredita que foi o fulano que fez mesmo!), os candidatos invadiram as ocas, prometendo mais uma infinidade de coisas, e entregando vários santinho (aqui na aldeia, isso nem é um grande problema, já que as pessoas aproveitam os papeis pra ajudar a fazer fogo!!!). E se é assim na aldeia, imagina na cidade, a porcaria que num fica (e quem paga a conta da limpeza pública????). 

Ah, voltando pras promessas de campanha. Não foram poucos os candidatos que prometeram fazer uma festa aqui no Parque, pra comemorar a vitória. Os dois candidatos a prefeito fizeram isso, e alguns candidatos a vereadores também. Acredito que, a pessoa que promete isso, o faz no sentido de oferecer uma festa para agradecer aquilo que ela ganhou!

Mas, num deveria ser assim né!?
Um mandato público não deve ser visto como vitória, como presente, e sim como uma baita responsabilidade - talvez, se os cargos públicos não viessem com tantas regalias e salários tão altos, esses cargos não fossem vistos como "presentes".
Ah, só pra ilustra: um dos vereadores que veio aqui, tentando a reelição, tava reclamando do salário baixo, que é por volta de R$ 1.800,00 (num vou nem dizer pra ele quanto que um professor aqui ganha, pra ele num ter a oportunidade de usar a cara de pau e dizer que eu sou uma pessoa dedicada). E esse mesmo vereador falou felizão que seu salário vai aumentar pra quase R$ 4.000,00 (é, dá pra entender o motivo de tanta gente querendo ser "representante" do povo).

Por essas coisas que vi, percebo que é tudo do mesmo, mais do mesmo, continua tudo igual. Num é simplesmente o fato de mudar quem está lá que resolverá os grandes problemas. Acho que é mais importante é mudar o lugar que estas pessoas vão, e fazer o que...
Interessante que algumas pessoas têm a vida pública como profissão. A pessoa é "representante do povo" faz 8 anos e ainda assim num fez muita coisa boa pelos seus representados (tem alguma coisa errada com isso, ou ele não faz o que deveria, já que o que deveria fazer demanda muito tempo, ou num trabalha, pois não acredito que nenhum patrão daria 8 anos de licença pra alguém - mas ai alguém fala: mas ele é empresário! Usuário da mais valia e do esforço alheio pro seu privilégio...).

E por falar em representação, será que esse método de representação indireta (o que alguns dizem ser "democracia") já num deu provas suficientes que não é eficiente?
Será que não seria o caso de repensarmos isso tudo?

Tudo bem, não podemos parar e repensar isso, pois temos nossas obrigações diárias, como trabalhar e fazer funcionar essa máquina que nos oprime. Alguém que nos representa, seja na vida pública, tomando decisão pelo povo, ou na vida privada, indicando que tipo de vida e consumo devemos ter, precisa de nosso esforço já que ele pensa por nós, ele necessita que executemos essa tal de mais valia. Enquanto não pararmos pra pensar, não paramos com tudo isso, e as pessoas que se aproveitam de nossos esforços, agradecem (e de vez em quando nos oferecem uma festa de agradecimento).

Num seria o caso de começarmos a mudar esse sitema todo, esse modelo de sociedade que não é para todos, apesar de quase todos se empenharem na manutenção de regalias e privilégios para alguns?
Num seria o caso de nós pensarmos por nós mesmos?
Num seria o caso de nós mesmos nos representarmos?


Saudações Xinguanas

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