domingo, 17 de junho de 2012

O jantar de hoje


Parque Indígena do Xingu, 15 de junho de 2012
Hoje pela manhã, vim à aldeia Yawalapiti, como tenho feito normalmente aos sábados, pra passar o final de semana (costumo vir no sábado e retorno ao Posto Leonardo na segunda no início da manhã).
Uma das atividades que estavam previstas pra hoje era uma pescaria com alguns jovens da aldeia. Já estava chegando no final da tarde, e nada de pescaria. Além disso, vi os jovens se preparando pra jogar futebol. Ai, já pensei que num ia pescar e só me restaria esperar a noite, conversar com algumas pessoas, jantar, deitar e dormir.

Quando estava lá, no centro da aldeia, conversando com o Cacique e um dos pajés (eles estavem em contando histórias), quando ouvimos uns gritos vindo detrás de uma das ocas. Os gritos só aumentaram e começamos a ver alguns jovens correndo de dentro da oca. Ficamos preocupados e perguntamos o que era. Logo ouvimos: porco. 

De uma hora pra outra, começaram a surgir pessoas saindo das ocas com facões, foices e  espingardas nas mãos. Vi um porco correndo por detrás de uma das ocas. Corri no sentido que vi, pensando que era apenas um porco perdido. Peguei uma vara que vi no chão, pra tentar acuar o bicho, e esperar alguém vir armado pra pegá-lo. 

Quando cheguei atrás da oca, percebi que não era um porco, e sim uma manada de mais de 40 queichadas. Quando vi aquela cena, de vários animais correndo na minha frente, levantando aquela poeira toda, a única reação que tive foi de tentar acertar um deles com a vara que estava na minha mão. Claro que aquilo não surtiu efeito nenhum!

Uma das meninas que me viu correndo já trouxe um facão, e me entregou. Ela disse: pega eles. Não sei muito bem o que deu em mim, só sei que sai correndo por dentro do sapezal e do mandiocal, com um facão na mão, tentando achar um queichada. Logo vi que não estava sozinho, e que os rapazes que vi com as armas na mão estavam espalhados tentando matar os bichos.

Isso mesmo, sem prever, sem pensar muito, quando me dei conta, estava no meio de uma caçada. Correria, gritos, tiros, conversas de longe: por aqui, vai lá, eu vi eu vi.
Na verdade, percebi que quando se está caçando, não é muito bom pensar em outra coisa que não seja a própria caçada. Lembro que estive em alguns momentos no meio do sapezal, que quase me cobria, enquanto estava procurando queichadas - um animal que tem dentes afiados e que pode nos atacar quando estiver com medo. Em outro momento, depois que um dos meninos atirou em um deles, lá estava eu terminando de matar o bicho.

Enfim, depois de correr muito no meio dessa caçada, o resultado foram 3 quechadas mortos (o cacique matou mais 3, que foram levados pro Posto Leonardo - nem todos os índios comem porco do mato e afins!) Desses 3, dois deles eu que tive que pendurar em uma das árvores e limpar, justamente os dois que foram assados e serão comidos amanhã (domingo). O outro, que foi limpo por um outro rapaz, foi cozido. Este que foi cozido, é que virou parte do meu jantar!

O cardápio foi arroz, macarrão e carne de cateto, que eu mesmo ajudei a caçar!
Pra quem estava bem tranquilo, conversando no centro da aldeia, o final da tarde foi agitado.

Depois fiquei sabendo que os porcos que vi, não era nem a metade do bando que chegou perto da aldeia (uma parte deles foi pra um lado e a outra parte foi pro outro, logo que começou a correria). O mais legal é que, o pajé disse que eles atravessaram o rio (esse bando mora do outro lado do rio que beira a aldeia) pois estavam fugindo da onça... 

Esse Xingu não para de me surpreender!
Saudações Xinguanas

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal!! Mas diz aí Porcão, isso não é canibalismo? hehehe

Grande abraço! (Bixão)

Unknown disse...

Que aventura, hein?!