domingo, 20 de maio de 2012

Kuarup


Parque Indígena do Xingu, 20 de maio de 2012

Fiquei uns dias sem publicar, pois tava querendo entender melhor alguns aspectos do que estou escrevendo agora. Nos últimos dias, tenho participado de uma experiência fantástica, daquelas que vão ficar guardadas pra sempre na minha memória.

Já tinha ouvido falar do Kuarup e, desde o tempo de faculdade, nunca tinha entendido muito bem o que seria (sempre me disseram que era uma festa, e ao mesmo tempo era um evento fúnebre... meio complicado pra minha cabeça até então). Hoje, vivendo com os índios, fica muito mais façil entender, mas ainda asim, é complicado de explicar (talvez seja uma dessas questões culturais que, somente vivendo, é possível ter uma idéia clara do que se trata). Bem, não tentarei explicar, e sim, fazer alguns relatos...

A festa do Kuarup deste ano, terminará nos dias 18 e 19 de agos, porém, a aldeia já está em festa. A festa tem vários momentos e muitas atividades diversificadas. Vivendo aqui, ao lado da aldeia, estou participando de muitos dos eventos, e estou recebendo muitos ensinamentos por parte dos índios. Além de me manter preparado pra aprender, estou tentando me manter com uma sensibilidade aguçada, pra perceber certas questões que são mais difíceis de ver... aqueles aprendizados que demoramos algum tempo pra fixar, e de muita vivência pra entender bem!

Dentre os ensinamentos que são simples (se é que posso dizer que isso é simples), estão coisas como derrubar árvore com machado, carregar a árvore que foi cortada, rachar lenha, fazer fogo, pescar, usar rede de pesca nos igarapés, moquear peixe, dançar com os índios, etc, etc, e outros etcs. Agora, coisas que são difíceis são, o modo e momento de falar com as lideranças indígenas, perceber a hora de ficar em um lugar ou ir embora, saber a hora que se pode pegar comida, quando estamos na casa dos homens, aprender a dividir comida pra todos os índios reunidos, etc, etc e muitos, mas muitos outros etcs!

Em todos os momentos, eu me coloco a perceber os detalhes e entender, a partir das conversas com jovens e os velhos, como eles vêem sua própria cultura, e qual o valor que eles dão pra tudo isso. Confesso que não é fácil, principalmente entender alguns aspectos, como o fato de uma mulher não poder entrar em uma casa (a Casa dos homens), e como que uma flauta pode ser sagrada e só poder ser tocada nos períodos do Kuarup, bem como, o motivo dos jovens começarem a se preparar pra tocar o Uruá (flauta sagrada), antes das 03h da manhã.


tocador de Uruá descansando
tocadores de Uruá, antes mesmo do amanhecer















uma das lideranças vendo os cantadores
Dentro de tudo que aprendi na minha vida, o que mais se aproxima daquilo que tenho como muito valioso, são as festas juninas. Pra quem dançou quadrilha desde o tempo que ainda comia de colher, é mais fácil entender o motivo do valor a uma festa tão bonita visualmente, e ter tantos significados. Percebo que, a grande força da manutenção dessa cultura não está na beleza visual, e sim no que é belo além do que se vê.


cantadores e fila
detalhe da fila


Algumas pessoas que vêm ver a festa, me falam da beleza, das cores, das danças, etc. Isso tudo é muito bonito, bonito mesmo. Inegavelmente bonito. Mesmo assim, estou tendo a oportunidade de vivenciar algo mais, como ver o cacique afinando as flautas sagradas, tomar banho no rio com o cacique, e escutar as histórias que ele tem pra contar, andar no mato com as lideranças pra ver o local das grandes pescarias, sentar na beira da fogueira, de madrugada, com as lideranças e conversar sobre a história da aldeia e pensar o futuro de um povo, entrar correndo e cantando, no centro da aldeia, com os lutadores do huka huka, chamando os lutadores da outra aldeia que partiparão da festa... isso num tem preço, e a beleza singular desses eventos não são explicados em filmes e fotos (de fato, estou tendo uma oportunidade única... de vez em quando paro e penso nisso!).

lideranças e alguns jovens, à beira da fogueira, na frente da casa dos homens

Apesar disso, não posso negar que a festa é linda mesma. Algumas fotos podem mostrar isso (por conta disso que falei, grande parte dos meus registros ficarão na memória, pois não caberão em fotos!).

Saudações Xinguanas

6 comentários:

Anônimo disse...

porcão!

marque aqui à qual etnia refere-se o Kuarup!

beijos desde o mar
k

Mayara Monte disse...

Tio, adorei *-*, é muito bom aprender um pouco mais dessa cultura que nem sempre recebe o valor que merece. Estou muito feliz por você e espero que possa continuar compartilhando suas experiencias com todos nós. :*

Daniel Luciliusk disse...

Rimão, fico feliz em saber que está engrandecendo sua vida com saberes próprios e específicos dos povos indígenas.Conhecer, respeitar e entender esses ritos e rituais talvez seja um grande aprendizado, mas compreender as “entre linhas”, coisa que acredito que vai conseguir, é que penso ser o grande lance de tudo que você tem vivido aí.
Espero que essas experiências lhe sirvam, para crescimento, principalmente espiritual.
Que DEUS te abençoe e proteja.
Seu irmão, que te ama e torce muito pela sua felicidade e sucesso.
Ah!!!O Salmito e o Renato, pediram pra dizer que, se tu casar com uma Índia teus filhos serão os Porquinhos-da-Índia.

Bjo.

Rimão.

Daniel Luciliusk disse...

Rimão, fico feliz em saber que está engrandecendo sua vida com saberes próprios e específicos dos povos indígenas.Conhecer, respeitar e entender esses ritos e rituais talvez seja um grande aprendizado, mas compreender as “entre linhas”, coisa que acredito que vai conseguir, é que penso ser o grande lance de tudo que você tem vivido aí.
Espero que essas experiências lhe sirvam, para crescimento, principalmente espiritual.
Que DEUS te abençoe e proteja.
Seu irmão, que te ama e torce muito pela sua felicidade e sucesso.
Ah!!!O Salmito e o Renato, pediram pra dizer que, se tu casar com uma Índia teus filhos serão os Porquinhos-da-Índia.

Bjo.

Rimão.

Patricia disse...

meu lindo, fico muito feliz com suas novas descobertas, principalmente em relação a sua nova profissão de antropólogo formado na pratica, poucas pessoas tem essa oportunidade, aproveite muiiiiito e seja muito feliz, traga bastante conhecimento na sua bagagem e divida com o povo do lado de cá que nada entendem de viver uma vida escolhida e seguida, meu irmão querido vc é um privilegiado, mesmo sendo ateu, agradeça a Deus todo esse sucesso.Te Amo de paixão bjs.

Patricia disse...

meu lindo, fico muito feliz com suas novas descobertas, principalmente em relação a sua nova profissão de antropólogo formado na pratica, poucas pessoas tem essa oportunidade, aproveite muiiiiito e seja muito feliz, traga bastante conhecimento na sua bagagem e divida com o povo do lado de cá que nada entendem de viver uma vida escolhida e seguida, meu irmão querido vc é um privilegiado, mesmo sendo ateu, agradeça a Deus todo esse sucesso.Te Amo de paixão bjs.