segunda-feira, 2 de abril de 2012

Positive vibration

Parque Indígena do Xingu, 01 de abril de 2012

Hoje o dia foi agitado!
Diferentemente do que ocorre normalmente (pelo menos, tem sido assim nas duas semanas que já passei aqui), quando meus dias são muito simples, e sem muitas atividades diferentes. Mesmo havendo aprendizados constantes, as minhas atividades são muito regulares. Hoje foi diferente.

Logo que acordei, estava me preparando pra fazer meu café, e começar o dia com um café com tapioca, quando escuto um chamado lá de fora: professor! Logo vi que era o Governador (o Governador é uma das lideranças indígena de nome Kokoti, que administra todo o Alto Xingu - num sei muito como isso funciona, mas cada região do PIX tem sua administração própria, e aqui no Posto Leonardo é onde fica a administração do Alto Xingu). O Governador chegou e me disse: vem cá que eu quero te mostrar uma coisa. No caminho, fomos conversando sobre a pescaria do dia anterior (ontem, estava tomando banho no rio, quando o vi se preparando pra ir pescar, ele e mais algumas outras pessoas). Ele disse que a pescaria foi boa e só chegaram aqui no posto às 09h da noite. Perguntei se ele tinha caçado algo, já que ele estava levando a espingarda também quando foi pra pescaria. Ele disse que pegou um pato!
Entramos na casa de seu genro (na verdade é ex genro, mas na cultura indígena, continua sendo), que também é meu aluno,  e ele me levou até uma sala onde há um freezer. Ele abriu o freezer e me mostrou dizendo: olha o que pegamos! E tinha bastante peixe, bastante mesmo. Ele disse: pode escolher (essa foi a hora que comecei a ficar bobo). Como fiquei meio sem saber o que fazer, ele pegou e me deu dois peixes, um pintado e uma corvina (somando, dava quase 8 quilos de peixe). Ai ele disse: é professor, a gente vê que você é animado, e faz as coisas (isso, era porque ele me viu mexendo na terra pra fazer minha horta... mas essa história da horta, eu conto depois), e a gente gosta disso. O que a gente puder fazer pra você se sentir bem, a gente faz. Par nós, você é da nossa família (imagina só, ele é uma das lideranças do Xingu, e fica falando essas coisas... penso que, em parte, ele está feliz pela presença do professor, mas, vejo também que essa é uma visão se uma pessoa vivida, experiente, que conhece muito bem as coisas que vê e fala - sem falar que num precisava ficar falando isso). Enfim, fico mais que contente em saber que estou sendo muito bem recebido e com muito carinho por todos aqui no Posto.

Depois eu falo um pouco mais do Kokoti, mas tem algo que acho importante citar. Quando estávamos tendo a nossa primeira reunião oficial (participaram da reunião, o pessoal da SEDUC, o Governador, outros líderes e eu), ele mencionou algo pra coordenadora da SEDUC, que me fez me sentir muito bem. Depois de muitos assuntos, muita conversa, ele disse pra ele: vamos fazer o possível pro professor se sentir em casa, e se ele ficar doente, aqui mesmo a gente cuida (num vou nem precisar falar o conhecimento que as comunidades indígenas têm de curar os mais diversar males... me senti melhor, mas seguro, que sendo atendido em alguns hospitais do Brasil).

Logo depois, voltei pra casa, pra tomar meu café com tapioca, e recebi a visita do diretor da escola (que também é meu aluno). Conversamos alguma questões referentes à escola, às aulas, etc. Ele me chamou para um reunião, que seria às 15h, onde estaria presente também o professor do Ens. Infantil, que é indígena também, e que é o meu coordenador local (interessante é que, todo o aparato burocrático que há nas Secretarias de Educação e nas Escolas das redes públicas, foi transportado pras escolas indígenas, mesmo sem isso ter um resultado direto, muito menos eficiente). Durante esta reunião, tratamos de como seriam as aulas, planejamentos, atividades extra classe, etc. O mais interessante foi saber que, tanto o meu colega professor, como meu diretor, esperam muito da minha participação, no sentido de ajudar a escola e os próprios alunos, não somente com conteúdo, mas, principalmente, com a visão de quem não é indígena. Além disso, meu colega disse que espera poder contar comigo pra ajudá-lo, tanto na relação de entender melhor a língua Portuguesa, como nas atividades de aulas, e ajudando-o a usar o computador (ele não consegue fazer os relatórios e os diários de classe on line, pois não sabe usar o computador). Claro que, tudo isso, demonstra a responsabilidade que tenho, porém, acima de tudo, aquilo que eles esperam e depositam de confiança em mim.
Não pensei que o nível de responsabilidade fosse menor que é, e fico feliz em saber que esperam tanto de mim (se parar pra pensar bem, nem é tanto, é mais uma questão de dedicação e organização minha, e isso, acho que acontecerá tranquilamente).

Depois da reunião, vim plantar as sementes na minha sementeira (como já disse, a horta será tratada em outra texto, mais pra frente). Ai, como quase tudo de diferente que façamos, junta um monte de criança... isso é muito divertido. As crianças são muito curiosas, perguntam, ficam observando cada coisinha que fazemos. Este tipo de interação é muito boa, e muito gratificante.

Pra finalizar o dia... lembra dos peixes?... pois é, peguei um pedaço de cada, logo depois que fui limpá-los na beira do rio, e separei pra fazer cevice. Fiz o tal do cevice, e comi com uma das colegas que é enfermeira aqui no Posto (na verdade, foi a única pessoa que aceitou comer, já que as outras pessoas da saúde - que trabalham na área da saúde - não tiveram coragem de comer - o meu colega que divide casa comigo, que também é professor, não pode comer peixe, pois tem alergia). Enfim, comemos cevice de pintado e de corvina (o cevice foi feito com limão, sal, pimenta e um pouquinho de ervas finas, daquelas compradas em pacotinho - pra acompanhar, também teve shoyo), com tapioca...

Nada mal hein, pra fechar um dia cheio de atividades de boas energias!

Eita, neste texto, me comprometi a escrever pelo menos outros dois... isso vai ser bom!
Saudações Xinguanas

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