quarta-feira, 21 de março de 2012

O SUS e a Academia

No dia 13 de outubro de 2011 sofri um acidente de moto. Depois de algum tempo, ao relembrar o momento - e quase dá pra lembrar quadro a quadro - vejo tudo acontecer e penso que quase morri em um evento que durou menos que 5 segundos. Sofri alguns arranhões e uma fratura na clavícula direita. Falo que quase morri, pois estava sem capacete e cheguei a bater a cabeça no chão...

Pode parecer meio "batido", porém, depois de um episódio desses, é difícil ver a vida de modo tão fulgaz. Pra quem já pensava que a vida deve ser vivida (e este é o meu caso), que cada momento pode ser o último - sem querer ser dramático - e que, uma atividade supostamente simples pode ser a derradeira (claro que, algumas pessoas vão falar que meu acidente era algo previsível, dado a situação da moto!). Sem tratar de assunto meio obvios, penso que, atividades simples, coisas do cotidiano, podem trazer consequências sérias. Isso, reforça uma forma de ver e viver a vida. "Foge, meu amigo, para a tua soledade, para além onde sopre vento rijo e forte. Não é destino teu ser enxota-moscas” (Friedrich Nietzsche).

Mas ó, num é pra isso que escrevo este texto. Vamos lá.
Depois do acidente, começo a me deparar com algo que me deixou intrigado, e muito bravo.
Por que, o antendimento que recebemos nos hospitais e postos de saúde públicos, são do jeito que são? Ao me questionar isso, me refiro (quase que 100% aos médic@s).

Depois do acidente, passei no hospital do município de Mucajaí-RR, e depois fui transferido para o HGR, que fica em Boa Vista-RR. Em ambos os hospitais, fui tratado com um desprezo enorme, quase um não humano. Os não-profissionais que me atenderam, não se apresentavam (não falavam seus nomes), não olhanvam pro meu rosto, não tentanvam entender a minha condição de acidentado e, tampouco, tinham a mínima preocupação se estava sofrendo muito, ou pouco, ou se estava apenas me fazendo de dodoi.
Um dos médicos me passou uma medicação, à qual sou alérgico (ela não perguntou se tinho alguma restrição - ainda bem que perguntei à enfermeira o que ela iria aplicar...). Além disso, em outro momento que retornei ao HGR, fui tentar conversar com uma médica, sobre minha condição e um possível tratamento. Fui tratado com uma indelicadeza tamanha, que quase chutei aquela mulher (além de rir de mim, na minha cara, me ofendeu - isso pode parecer banal, mas quando se está em uma situação de "inferioridade", com suas condições de saúde debilitadas, e espererando ajuda de uma pessoa que está pra ti ajudar, e não faz, isso conta muito).

De tudo que passei, em nenhum momento coloquei em questão a qualidade do SUS. Já passei por cirurgia feita através do SUS e já fui atendido de modo providencial, humano, dentro do Sistema. A grande questão, não é o Sistema Único de Saúde, e sim, alguns não-profissionais que trabalham nele.
O SUS, é - se não me engano - o maior serviço público de saúde do mundo. E é muito bom. Defendo o SUS, até porque dependo dele, e sou um dos financiadores.
Ruim são os não-profissionais que trabalham nele que, inclusive, furtam materiais para levar às suas clínicas particulares (acho que até podemos falar que é roubo, já que possuem bisturis nas mãos) e dão plantões não presenciais, além de outros atos.

Passado isso, me deparei com três texto bem interessantes, que são na mesma linha do que penso. Um deles é da Nina Crintzs, "Eu, o SUS, a ironia e o mau gosto", um outro é da Carolina Pombo, "ESTADO DE CALAMIDADE NA SAÚDE", que foi publicado como "guest post" no blog da Lola, e o último é da Rita Almeida "O SUS que não se vê", que, por sinal, é muito interessante e mostra vários dados relevantes. Destes 3 apenas a Rita não me autorizou a citar... espero que ela não fique brava!
Acredito que estamos em sintonia, quando o grande problema do SUS, não está no Sistema, mas sim em quem trabalha nele (ou faz de conta que...). Leiam estes três textos, pois vale muito. Parabéns pelos textos Nina, Carolina e Rita.

Estava bem tentado a não pensar assim, pois foi quando me deparei com a idéia de um médico Cubano. Deixa eu contextualizar:
depois de passar poucas e boas nos atendimentos públicos, fui procurar um médico (indicação de uma amiga) numa clínica particular. Em alguma de nossas conversar, expliquei tudo que passei nos atendimentos anteriores, e ele disse não entender porque os médicos brasileiros agiam assim, tratavam o paciente da clínica particular de um jeito e o da rede pública de outro modo. Segundo ele, às vezes, estes mesmo médicos ganham bem mais através do SUS que em suas clínicas, mas continuam a destratar os pacientes do SUS.
Ai, veio uma das frases que fechou tudo. "Lá em Cuba, não perguntamos quem é o paciente. Se ele chega no hospital, tratamos dele e pronto. Aprendemos que o problema do paciente deve ser resolvido". Fiquei me perguntando se esta atitude tem algo a ver com se estudar e trabalhar em um lugar que o Capital é imperador???? Será?
Se tu estudas numa faculdade onde te ensinam que há pacientes, problemas e resoluções, é uma coisa. Agora, se tu aprende que, no meio de tudo isso há o lucro, o vil metal... que consequências teremos?

Será que o problema que temos no SUS não está ligado ao modo que os médicos Brasileiros são formados?

Acredito que, do mesmo modo que a Nina, não adianta o Presidente ser atendido pelo SUS. Se o médico que o atende sabe que ele é Presidente, fará de tudo pra "curar" o cara. Se o médico que atende a população tiver certeza que, algum dos seus pacientes for filho de um colega de faculdade, e que seu filho será tratado por um outro colega de profissão, será que ele num vai lutar pelo SUS atender de modo super eficiente?

Baseado na idéia de que os filhos dos Congressistas devam estudar em escolas públicas, poderíamos pensar que os médicos e seus próximos deveriam ser atendidos na rede pública. Pode parecer meio maluco, mas acho que ajudaria em algo.

Alguém pode me dizer que isso é utópico, é bobo, é ineficiente.
Sei que, o que não é eficiente, é deixar como está. Deixar o povo, que paga pra ter esse sistema funcionando, sofrer na mão de uma parcela pequena na população, bem mais que elitizada (nem vou mencionar os casos particulares). Enfim, pode ser utópico..."¿Para que sirve la utopía? Para eso sirve: para caminar" (Eduardo Galeano).

Pra finalizar, deixa essa preciosidade do Belchior, na voz da Elis (eita parceria porreta). ArriÉgua!




Nenhum comentário: