quarta-feira, 13 de abril de 2011

Qui nem jiló

O título dessa postagem é uma brincadeira com o assunto, já que ela pode ter dois sentido, os quais expresso aqui mesmo!

Em um deles, uso as palavras do grande Luiz Gonzaga (pense, um caboco que nasceu numa cidade chamada Exu... e teve toda essa capacidade de retratar bem sua origem e seu povo):

Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer

Que é feliz sem saber
Pois não sofreu




Luiz trata do sofrer, aliado ao sentimento de saudade, falando que há duas formas distintas desse sentimento, uma boa e uma ruim. Apesar de já ter sofrido, um pouquinho só, concordo com ele e me vejo com um cabra feliz, mesmo tendo saudades dos amigos que estão longe, e sabendo que sentirei o mesmo pelos que virão, esse sofrimento num é tão sofrido assim.

O outro sentido, é pra tratar um pouco do lugar onde vivo. Pode parecer maluco, mas vou considerar isso qui nem jiló (claro né, tinha que misturar tudo com comida - parece que é filho de Cearense!):

- quer comer jiló?
- não.
- por que, tu já comeu e num gostou?
- não, eu nunca comi, mas num gosto!

Muita gente me pergunta como é Boa Vista, como é Roraima, pediram pra eu mandar notícias assim que estivesse aqui (eu sei, sou ruim de notícia mesmo... mas tento recompensá-los com algumas novas agora - pra ver como sou tão ruim de notícias, tem gente que só sabe que eu moro no hemisfério Norte agora, ao ler isso aqui!).

Bem, de Roraima num posso falar muito, ou quase nada, pois ainda num sai da capital (Boa Vista) desde que cheguei. O que sei, é de ouvir falar e de ler... mesmo assim, vou tentar falar um pouco de como são as coisas pras bandas de cá.



Nem tudo é Floresta. Na verdade, uma parte significativa da fisionomia vegetacional é um tipo de Savana, o que é chamado de Lavrado (uma boa parte das Savanas Amazônicas Brasileiras, ficam aqui em RR). Além disso, há a Floresta (aquela que todo mundo já ouviu falar...). Ainda num tive como conhecer essa Floresta densa, de dossel alto, mas o Lavrado é presente no entorno de Boa Vista. Tudo indica que meu primeiro contato com a Floresta não vá demorar, já que vou fazer um trabalho com as comunidades que vivem dentro dela (mas isso, eu colocarei em outras postagens - como prometi pro Fix).







E por sinal, numa das minhas caminhadas pelo meio do mato, vi uma revoada de papagaios (isso mesmo, papagaios de verdade...). Contei 13 no total - estranho, mas foi isso mesmo, 13!

A foto num ficou muito boa, mas já dá pra ter uma idéia...


O nome Roraima se dá pelo lugar, na realidade, pela estrutura Geológia. A formação Roraima, de onde surge o Monte Roraima, é mais antiga que os continente (do modo como conhecemos hoje). Dizem que o monte tem algo perto de 2 bilhões de anos. O Monte Roraima está presente não apenas no Brasil, mas na Venezuela e na Guiana (a Inglesa).

Ah, uma coisa legal, é que vocês verão muitas fotos tiradas por mim (tá vendo Christian, valeu a pena me cobrar pra comprar uma máquina).






O que tenho visto, até então, é um lugar de gente hospitaleira, simpática (tá, tudo bem, são pessoas... e pessoas nem sempre são "gente"). Isso talvez seja característica de um lugar que há muita gente de fora, vindo de vários lugares. Interessante que, essa mistura de gente, com suas culturas, faz brotrar uma cultura local, que há várias origens (por exemplo: aqui há uma sede do CTG, que tem como presidente um Cearense - mas isso, há uma explicação clara, que já foi dita nesse blog, que faz parte da ação da Nação Cabeça Chata, pra dominar o mundo hehehe).





Muito provavelmente, aqui, Simon and Garfunkel teriam dito para a Senhora Robinson:

Look around you, all you see are sympathetic eyes
Stroll around the grounds until you feel at home




Como em todo o Brasil, essa terra forma um povo, num dá pra dizer (pelo menos, eu não consigo) quem é, ou como é esse povo.... mas que há sim, um povo formado de carne de peixe, com macaxeira doce, e os pés molhados de rio. Isso me lembra os ditos de Josué, quando trata do ciclo do caranguejo:
"Se a terra foi feita para o homem com tudo para bem servi-lo, o mangue foi feito essencialmente para o caranguejo. Tudo aí é, ou está para ser caranguejo, inclusive a lama e o homem que vive nela. A lama misturada com urina, excremento e outros resíduos que a maré traz, quando ainda não é caranguejo vai ser. O caranguejo nasce nela, vive dela, cresce comendo lama, engordando com as porcarias dela, fabricando com a lama a carninha branca de suas patas e a geléia esverdeada de suas vísceras pegajosas. Por outro lado, o povo daí vive de pegar caranguejo, chupar-lhe as patas, comer e lamber os seus cascos até que fiquem limpos como um copo e com sua carne feita de lama fazer a carne do seu corpo e a do corpo de seus filhos. São duzentos mil indivíduos, duzentos mil cidadãos feitos de carne de caranguejos. O que o organismo rejeita volta como detrito para a lama do mangue para virar caranguejo outra vez. Nesta aparente placidez do charco desenrola-se trágico e silencioso o ciclo do caranguejo. O ciclo da fome devorando os homens e os caranguejos todos atolados na lama."


É Josué, aqui também tem lama, aqui também, caranguejo, aqui o ciclo é reeditado pra formar essa gente.



Foi de uma alegria muito grande, quando vi pela primeira vez o Rio Branco, quando vi o primeiro nascer do sol, às suas águas, quando me deparei com a primeira noite sem lua, às suas margens . Foi aqui que percebi que estava em uma das maiores Bacias Hidrográficas do mundo. Dificilmente conseguirei expressar com palavras o que senti ao ver o rio pela primeira vez (agora eu acho que consigo imaginar o que é ver o mar pela primeira vez...), sentido seu cheiro, vendo a cor, e a força de sua correnteza. O que me resta, é expor algumas fotos, tentando traduzir esse sentimento. Isso me trouxe à memória, quando vi pela primeira vez o "Velho Chico" (Rafael, meu irmão, tá lembrado??? Dentro do ônibus do Centro de Ciência), o rio, a cachaça e por do sol!

Fiz até dois vídeos. Estão meio toscos, mas dá pra reparar bem a beleza do lugar! (vou tentar melhorar minha técnica de stop motion, na verdade, eu é que tenho que ficar parado ehehehe).






Já ouvi falar algumas vezes, que o Estado de Roraima possui uma dependência muita grande do "Estado", que não há um parque industrial, que são poucas as empresas, etc (sempre que ouço esses comentários, costumam ser de modo negativo...). Sem querer tratar de modo direto a questão Política e Social (mas, pra num passar batido...), só acho que isso num seja um problema, principalmente pra quem já foi, ou já pensou ser, Socialista... mas bem, como disse, num vou entrar no assunto, apesar dessa característica não ser um "problema" pra mim.

Só falta comentar que o problema não é o que está posto, nesse caso, e sim como é conduzido. Um Déspota Esclarecido pode explicar isso melhor que eu, se bem que, dizem por ai que não há Déspotas Esclarecidos (alguém conhece???).

O Estado de Roraima ainda é muito novo (eu já andava de ônibus, sozinho, em Fortaleza, e Roraima ainda era Território). Falta "vivência" pro Estado tomar corpo, falta tempo. Podemos fazer um paralelo com o Brasil (tão novinho, um pouco mais de 500 aninhos... e falta muito pra crescer!). Em algumas áreas do conhecimento humano, o Brasil desponta, porém, há aqueles que nos fazem parar pra pensar. Esses exemplos que não dão orgulho, ocorrem todos os dias, nos mais diversos lugares (haja vista a situação de Guerra Civil que há no Rio, ou o descaso com a situação da terra no Paranapanema, claro, sem falar nas terras de ninguém, que estão perdidas pelas fronteiras Nacionais).
Num tô querendo amenizar o que há por aqui, porém, só não acredito que "isso" ocorra, pelo fato de estarmos no Estado de Roraima.

Acredito que as instituições são feitas de pessoas, independentemente de quem sejam essas instituições... enquanto as pessoas trabalharem em prol da manutenção do status quo, as instituições não vão mudar (há de mudar de dentro pra fora... começando pelas pessoas).
Essas palavras também servem pras Universidades que tenho visto aqui (a UERR - Estadual de Roraima - e a UFRR - Federal de Roraima). Pra quem passou os últimos 8 anos ligado a uma das maiores do Brasil, as Universidades aqui precisam melhorar em certos aspectos (mas não em todos). Ah, tem umas fotos da UERR (tenho aprendido a, cada vez mais, gostar mais ainda dessa "Escola" - e que tem muito pra crescer...)



Repito, as instituições são feitas de pessoas...


Pra completar, cito Paul Simon (Simon and Garfunkel) novamente:

And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more.
People talking without speaking,
People hearing without listening,
People writing songs that voices never share
And no one dared
Disturb the sound of silence.





Acho que já consegui dar uma idéia de como é né!? Logo mais, escrevo mais um pouquinho...

E pra fechar essa falação toda, só tenho a dizer que isso aqui, pra um Cearense, é um lugar muito massa: tem muita macaxeira boa, e vários tipos de farinhas. Tudo isso, acompanhado de um bom peixe, viiiiiiixe.


Como disse Manu chao:
Pa' una ciudad del norte
Yo me fui a trabajar...




E pra vocês, deixo aqui meu Arriégua!

8 comentários:

Lemão disse...

Arriégua! Parariles!!! Saudade de ti, desastre da natureza! Ótimo post!
Abração
Lemão

George Leandro disse...

Lemão,

meu querido... como tava sabendo que a Amazônia tava super tranquila, tudo no seu ritmo normal, equilibrada, vim aqui pra causar um pouco de desequilíbrio - hehehe...
Grande abraço

Fabio Figueiredo disse...

Carai, Pará!!
Q post trampado!! Q massa!
O que vc tá fazendo por essas bandas? Tá praticamente mais longe q eu... hahaha
Grande abraço e boa sorte por aí!

George Leandro disse...

Grande Santista...
que bom receber uma mensagem sua meu camarada (ah, visitamos sua cidade ano passado, jogando nos Abertos, por Indaiatuba... foi massa mesmo!).

Fica tranquilo que tu receberás outras notícia logo mais.

Abraços

Unknown disse...

muito lindo a forma q expõe seus sentimentos em relação a cada trecho pecorrido...nos aproxima não só das maravilhas por onde anda mas do teu intimo...

saudades
bjus

George Leandro disse...

Mary,

vou tentar manter as notícias sempre atualizadas...

Qualquer hora dessas, visito o Velho Chico novamente (quem sabe num percorro ele inteiro hein!)

Bjs

Unknown disse...

Meu Irmão, lendo vc escrever assim, paro pra pensar e ver que de todas as buscas que as pessoas têm, viver sem medo e com alegria, satisfação e amor ao mundo e ao próximo, seja não a melhor busca, mas sim a melhor escolha.

Fico muito feliz por vc, acredito que o mais importante pra ti não seja o Estado em que estás, mas sim o estado como vc se encontra.

Deus te abençoe.

Amo vc.

Rimão.

George Leandro disse...

Rimão,

saiba que essas suas palavras são muito importantes pra mim...
Também te amo.

Bjs
Rimão